Escola é cultura!

Divulgando para o mundo as atividades culturais da escola.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Cartilha elaborada pela professsora Helen, juntamente com os alunos num texto coletivo para a Feira de Cultura


Feira de Cultura
2012
Tema:

Valores Morais e Sociais da Escola Estadual Professora Yolanda Martins
4º ano
ESCOLA ESTADUAL PROFESSORA
YOLANDA MARTINS



Professoras Responsáveis:
Helen & Heliana


Supervisor:
Breno José de Araújo


Rua Tabajara, 800
Lagoa Azul – Ibirité/ MG
# 31* 3533-1336



“DEZ MANDAMENTOS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO YOLANDA MARTINS”:

I.        NÃO PICHAR QUAISQUER OBJETOS OU PARTE DA ESTRUTURA FÍSICA DA ESCOLA
II.      NÃO DESCARREGAR RAIVA OU QUAISQUER RESSENTIMENTOS CHUTANDO AS PORTAS DAS SALAS E BANHEIROS
III.   NÃO QUEBRAR MESAS E CADEIRAS
IV.     NÃO FAZER ORELHAS NOS LIVROS E MATERIAIS IMPRESSOS DE USO PÚBLICO
V.        NÃO QUEBRAR OS VIDROS, LÂMPADAS E FECHADURAS DAS PORTAS
VI.     NÃO SUBIR NOS VASOS SANITÁRIOS
VII.   JOGAR LIXO NO LIXO
VIII.             NÃO BATER NOS COLEGAS
IX.     NÃO DESRESPEITAR PROFESSORES OU QUAISQUER FUNCIONÁRIOS DA ESCOLA
X.         BUSCAR CONHECER E CUMPRIR COM OS DEVERES E DIREITOS DE ALUNO
By: alunos do 4° ano
 “ALUNO EDUCADO, PATRIMÔNIO PRESERVADO!”
CURTA ESSA IDEIA ;)


Mediante a proposta de trabalho da Feira de Cultura/ 2012, sob o tema: “Valores Morais e Sociais da Escola Estadual Professora Yolanda Martins”, foi sugerido aos alunos do 4º ano uma reflexão sobre os significantes da palavra P-A-T-R-I-M-Ô-N-I-O...

Nessa abordagem, entende-se como Patrimônio Público o conjunto de bens materiais, culturais ou históricos usados para fins operacionais e de uso coletivo, identificando-os desde lugares de convivência, a valores humanos compartilhados no convívio entre as pessoas.

Por outro lado, Patrimônio Privado pode ser visto e entendido como uma propriedade ou um bem material que é meu, e ninguém pode usufruir a não ser que eu permita.

Através de um trabalho reflexivo e de pesquisa “in loco”, onde os alunos do 4° ano buscaram identificar na escola situações de depredação e desrespeito ao patrimônio “Yolanda Martins”, foi

produzido um retrato falado, que se consolidou na seguinte produção pelos próprios alunos:


“A escola que temos não é a que queremos”

       O patrimônio da “Escola Estadual Professora Yolanda Martins”, que conhecemos hoje, está sendo destruído desde as paredes até o chão.
       É comum encontrarmos pichações em todas as partes, portas sem as fechaduras, mesas e cadeiras quebradas, além de todo lixo jogado fora da lixeira. Os banheiros estão sempre transbordando da água que volta pelo ralo e não há qualquer cuidado com os objetos e materiais que pertencem a todos.
     A escola se encontra dessa forma devido à falta de respeito e educação entre os próprios alunos, que não valorizam, nem cuidam do patrimônio.

       Então, em todos os anos, o prejuízo que se tem com a falta de cuidado pelos bens materiais da escola é retirado do que poderia ser investido em outras atividades para os próprios alunos! O dinheiro que poderia ser investido até mesmo para criar outros espaços educativos, como, por exemplo, uma brinquedoteca ou sala de informática, deverá ser investido na compra de novas carteiras e cadeiras; pintura das paredes pichadas, etc. Até quando?
       Para mudar essa realidade da escola Yolanda Martins, precisamos nos unir e valorizar o patrimônio que nos pertence. É preciso mudar a mentalidade daqueles que só pensam em destruir. É preciso cuidar da escola como se fosse nossa própria casa, afinal, a escola é nossa! É preciso fazer com que a escola dos nossos sonhos seja esta: “Professora Yolanda Martins”.
Alunos do 4º ano

Nessa perspectiva, os alunos do 4º ano elaboraram preceitos para concretização de uma escola ideal e ao alcance de todos. Veja! >>>>>>>>>>>


quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Escola: um enigma indecifrável!


Escola: um enigma indecifrável!


                          Quero fazer uma declaração de amor: Tenho uma paixão! Domina-me, prende-me, arrasta-me e consome-me. É maior que eu mesmo. Não teve jeito. Por muito tempo eu resisti. Tentei fugir, fazer outra coisa... Mas, não deu. O que eu sou, o que eu tenho. O meu passado e futuro estão atrelados a ela.

                           Amo apaixonadamente a ESCOLA. Não sei viver fora desse ambiente. Não sei fazer outra coisa senão pensar nela, trabalhar e sofrer nela.

                          Ao ingressar-me nesse local, pela primeira vez aos sete anos, lembro-me muito bem desse dia: Observei as paredes, as carteiras, meus colegas, minha professora, meu material escolar, enfim fiquei atento a toda aquela novidade! Nunca gostei tanto de um lugar, como havia gostado daquele. Eu me encontrei!

                         Começou aí a minha paixão e reflexão sobre essa INSTITUIÇÃO, chamada ESCOLA. Estive sempre atento sobre o que as professoras falavam sobre o Conhecimento Escolar, desde os anos iniciais. Com o passar do tempo pude dialogar com os professores e professoras sobre o tema. Alguns professores deixaram suas marcas em mim, imprimiram uma forte conexão e auxiliaram-me a ser o que sou hoje.

                         Não falo aqui da palavra EDUCAÇÃO, falo sim, da palavra ESCOLA. Sobre o que acontece no seu interior, sobre suas relações entre os diversos indivíduos que se interagem nesse espaço.

                          Minha paixão pela Escola me reservou uma decepção, comum às paixões. Eu não passava nos exames seletivos para concursos de vagas seja de CEFET, UNIVERSIDADES OU CONCURSOS PÚBLICOS. Descobri que percorri toda a trajetória escolar com êxito,
mas, não sabia nada. Ou melhor, quando eu precisei daquele conhecimento, não soube aplicá-lo. Ainda hoje, eu não sei. Você não sabe o custo que foi redigir esse texto.

                          Cheguei a uma conclusão, polêmica é claro, alguns dirão: “não é bem assim...” Mas, é o seguinte: “A ESCOLA ENSINA ERRADO!” Engana-se quem pensa que os alunos não aprendem. Engana-se quem pensa que a escola não está ensinando. Engana-se quem pensa que os alunos não absorvem conteúdos. Os alunos realmente aprendem o que é ensinado. O problema é que a escola ensina errado!

                          Os alunos conseguem chegar até ao nono ano do ensino fundamental II ou ao terceiro do ensino médio sem saber escrever direito, sem saber usar as normas gramaticais da língua culta. Não escrevem um texto ao menos inteligível. Duvida? Leia as “pérolas do Enem” que circulam livremente na internet, aquilo é verdade, posso comprovar mostrando exemplos de textos que os alunos escrevem para mim.




                          Por que isso acontece? Porque a Escola ensinou. Segundo ela, não é preciso ler os próprios textos que se escreve, copia-se por copiar, não é preciso ouvir os colegas quando estes estão falando. O importante é ficar quieto e não interagir com eles, senão se cria bagunça. Não se presta atenção aos auxiliares de serviços, não se ensina a tratá-los com respeito e educação.
           Não adianta por a culpa nos alunos, são excelentes! Foi a escola quem ensinou errado.

                          Um objetivo educacional presente nos documentos oficiais é: “desenvolver o gosto pela leitura e pela escrita” e quando a criança já apresenta esse gosto, o que a escola faz? Desenvolve o desgosto.
           Aprendi a ler antes de ir para escola, já escrevia o meu nome e meus tios liam para mim revistinhas em quadrinhos. Como falei, minha paixão pela Escola é de tenra idade. Quando aprendi a escrever, na escola, comecei a escrever com gosto. Lembro-me de ter participado de um concurso de redação sobre o meio ambiente. Lembro-me de ter perguntado à professora sobre o resultado dele. A professora não tinha uma resposta para me dar.

                          A escola peca quando o que se produz de leitura e escrita não tem uma destinação social, não existe o chamado letramento. Pode até ter uma motivação inicial, mas depois não há uma continuidade, pula-se de uma atividade para outra e outra... Uma não complementa a anterior, não retoma, não acrescenta e muito menos conclui.

                          Eu sou um exemplo disso, não sei escrever, ler, eu até leio muito, mas, escrever um texto bom? Que dificuldade!  Dentro dos muros da escola a escrita é circunscrita a apenas resolver os exercícios do livro-texto. O ensino de Língua Portuguesa se baseia num recorte de uma gramática descontextualizada.

                           O que se escreve? Para quem se escreve? Por quais motivos? Quais são os portadores de texto? São perguntas que não se fazem na escola.

                            Porque estou dizendo isso tudo? Porque se você pedir a um aluno do nono ano do ensino fundamental II para reler o que ele mesmo escreveu, ele se recusará. Virá com uma pergunta desconcertante: “para quê?” Em sua trajetória escolar ele nunca precisou corrigir o próprio texto, isso nunca lhe foi solicitado.

                A escola solicita ao aluno fazer trabalhos em suas diversas disciplinas ao longo dos anos do ensino fundamental e médio e os professores que os recebem não os lê. Simplesmente dão um risco de caneta de alto a baixo significando que “passou o olho”. Avalia a capa, a aparência do trabalho e dão a nota por isso. Trabalho com “aparência” de limpo e mais ou menos no formato esperado recebe uma boa nota, se não parecer “apresentável” recebe uma nota menor. Também muito desses professores tem o costume de guardar os trabalhos em sua própria casa e não os devolvem aos alunos, dessa forma acabou-se de ensinar que não é necessário ler o que se escreve e que escrever é apenas copiar palavras e frases fora do contexto bastando dar uma boa aparência na capa para receber uma nota melhor. Ultimamente, os alunos não se dão ao luxo nem de dar uma roupagem ao trabalho, já arrancam folhas do próprio caderno, com rebarba e tudo, grampeiam e entregam ao professor.


              Quando falo de Escola. Não falo de uma escola em específico. Não falo de um professor em específico. Não falo de uma disciplina em específica. Falo da ESCOLA! Da INSTITUIÇÃO! Falo de um Sistema Educativo montado pelo ESTADO, de forma histórica e contextualizada, que é composta pelos seus profissionais, pelas instituições de formação docente, pelos governos federal, estadual e municipal, pelos gestores públicos e privados, pelas pesquisas e pesquisadores educacionais.
 Estou falando aqui de um Conhecimento Escolar socialmente elaborado ao longo da história, pelo fazer mesmo, cotidiano, de cada estabelecimento de ensino, pelos alunos, famílias, comunidade, cultura. Enfim, por toda a sociedade brasileira e por tudo o mais que possa interferir nessa instituição chamada Escola.

                Falo de seu produto. A escola está produzindo analfabetos funcionais. Nas avaliações externas o resultado é sofrível. Os níveis de evasão e repetência são altíssimos. A escola brasileira não é de qualidade. Segundo o Movimento Todos Pela Educação, a taxa de analfabetismo na faixa etária de 10 a 14 anos é de 2,5% e de 15 anos ou mais é de 9,7%. Só 26,3% dos alunos que concluem o Ensino Fundamental têm um bom desempenho no SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) Apenas 63,4% dos alunos conseguem concluir o Ensino Fundamental na idade adequada. O IDEB (índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos anos finais do Ensino Fundamental do Brasil segundo dados do Ministério da Educação do ano de 2009 é 4, quando a média deveria ser 6.
Esses dados estão totalmente de acordo com os dados estatísticos da Escola Estadual Professora Yolanda Martins, disponíveis na internet:
·         30,6% dos alunos do terceiro do ciclo da alfabetização estão entre os níveis baixo e intermediário do PROALFA 2011 (Programa de Avaliação da Alfabetização do governo estadual de Minas Gerais). O IDEB de 2011 dos anos iniciais do ensino fundamental é 5,2.
·         Os alunos do quinto dos anos iniciais do ensino fundamental na avaliação do PROEB (PROGRAMA DE AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO GOVERNO ESTADUAL DE MINAS GERAIS) tem uma porcentagem de 71,6% dos alunos dentro dos níveis baixo e intermediário em Língua Portuguesa e em Matemática a porcentagem é de 67,2%.
·         No nono ano a taxa é mais sofrível 80,3% dos alunos estão entre baixo e intermediário em Língua Portuguesa e em Matemática 93,2% dos alunos não tem o conhecimento considerado recomendado para o fim do ensino fundamental.
·         No terceiro ano do ensino médio apenas 21,4% dos alunos estão  na faixa recomendada para o nível em curso em Língua Portuguesa e em Matemática apenas 21,7% podem ser recomendados como conhecedores do conteúdo mínimo esperado para quem conclui a Educação Básica.
·         O IDEB dos anos finais do ensino fundamental da Escola  Estadual Professora Yolanda Martins é 2,8.
·         No ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) a Escola Estadual Professora Yolanda Martins figura em 14.565º.  no ranking das escolas de ensino médio do Brasil é a nona escola entre as onze de ensino médio de Ibirité – MG.
·         Seu desempenho médio da Prova Brasil de 2009 está abaixo das escolas do município de Ibirité – MG.
·         Seu desempenho médio no SAEB 2011 está abaixo das escolas do município de Ibirité MG.
·         O comparativo do IDEB dos anos finais do ensino fundamental da Escola Estadual Professora Yolanda Martins (2,8) está bem abaixo dos demais.
·         A média de alunos por turma nos anos iniciais do ensino fundamental é 25,5 e dos anos finais 44,1 e médio 41,3.
·         Os anos iniciais do ensino fundamental têm taxa de 99,7% de aprovação e apenas 11% estão fora da faixa etária adequada.
·         Os anos finais do ensino fundamental têm taxa de 68,4% de aprovação e 32,2% fora da faixa etária adequada para o ano em curso, no ensino médio a taxa de alunos fora da faixa etária adequada é maior, 41,2%. Informando que todos são fortíssimos candidatos a evadirem da escola.
·         A taxa de abandono dos anos iniciais é de 0,8% e dos anos finais 2,8%.
·         O único índice em que a Escola Estadual Professora Yolanda Martins está em pé de igualdade com os comparativos do município e é, inclusive, maior que a taxa do Brasil é o IDEB dos anos iniciais do ensino fundamental, que tem taxa de 5,2 a taxa do Brasil é de 5,0.



              O que objetivo  quando digo que a escola ensina errado não é desancar a instituição ou culpabilizar seus profissionais, pelo contrário, quero fomentar o debate, contribuindo com uma reflexão do fazer pedagógico. Há muita coisa boa sendo feita no interior das escolas, por profissionais comprometidos, que não são ouvidos pelos gestores.
Acho que um dos motivos porque a escola é de má qualidade deve-se  ao fato dos gestores públicos não levarem em conta o fazer pedagógico ao construírem uma escola. Pensam que para uma escola existir basta um conjunto de salas de aula e contratar professores.
 Escolas precisam de salas adequadas para os seus profissionais trabalharem, com mesa, arquivo de aço, móveis e, sobretudo um local que garanta privacidade para que os interlocutores possam conversar livremente.
 Escolas precisam também de bibliotecas amplas, de sala de uso multimídias, pátio coberto, auditório, sala de reuniões amplas, depósito de materiais, arquivo morto (procure saber a quantidade de documento que precisa ser arquivado ao longo dos anos numa escola). Ou seja, as escolas precisam de muito mais espaço do que os prédios atuais contam.
Pelo exíguo espaço, gera-se nos profissionais um stress muito alto, fazendo com que adoeçam frequentemente. Conheço uma escola que numa sala de aula existem 55 alunos matriculados. A pergunta que não quer calar é: há alguma condição de se ter um trabalho de qualidade num ambiente desses? Pela precariedade e péssimas condições atuais em que são submetidos seus profissionais, a escola acaba ensinando errado.

              Mas, o que digo não é nada novo. Professoras estão conseguindo notoriedade fazendo vídeos que são postos na internet e atingem picos de exibição seja no you-tube ou no twitter. As mazelas da educação brasileira já são por demais conhecidas. Permita-me ir um pouco mais além.
Celestin Freinet, um pedagogo francês,  faz uma dissecação do tema em sua obra PEDAGOGIA DO BOM SENSO, se referindo à escola de seu tempo, mas, oh, é tão atual!

               Freinet comparou o trabalho escolar com o trabalho inútil de um soldado: cinco homens e um cabo, que tinham por missão transportar, para a outra extremidade do pátio, um monte de cascalho incômodo. Certamente, é preciso entrar em ação, e nunca depressa demais, pois a tarefa não é urgente. Um quarto de hora depois, a equipe estava pronta para a obra, se é que no caso se pode falar de equipe e de obra: um soldado empunha os varais do carrinho de mão onde se sentará quando estiver cansado; outro cuida da roda e se sentará em cima dela para manter o equilíbrio. E os homens munidos de pá? Vigiam o sargento e, quando ele olha, opa! Uma pazada de cascalho...
_ “ Saiam daí”, atreve-se a dizer um recruta espertinho. “Eu sozinho faço mais que cinco equipes juntas...”
_ “ Nada disso”. _ respondem os homens experientes. “Não estamos na vida civil e você não é pago por peça. Vai incomodar todo mundo; os colegas que não estão com vontade de trabalhar, o cabo que tem que nos vigiar aqui até a sopa, e o sargento que dirá, muito sério, quando você acabar: “Faça de novo... Ponha de volta o monte de cascalho onde ele estava! Quando você estiver em casa, poderá trabalhar o dobro; aqui é trabalho de soldado. Não tem finalidade nem razão de ser. É feito para aborrecer os militares e fazer acreditar aos contribuintes que na caserna é necessária uma mão-de-obra abundante e especializada.

             Freinet  pergunta “porque é preciso, que lástima! Que a técnica escolar se pareça tantas vezes com esse trabalho de soldado?” A escola luta contra crianças rápidas demais ou conscienciosas demais, contra aquelas que acabam tão depressa os deveres que, decentemente, não se pode obrigá-las a repeti-los.” O que a escola faz então? Dá outra atividade, e outra e mais outra... assim o tempo vai passando. Hoje, com 97,9% das crianças brasileiras atendidas na escola, poucas conseguem acompanhar e entender de fato o que a escola espera delas.


               Desculpe-me se tudo isso que eu digo provoque em você um sentimento de angústia. Não pense que este que vos fala é um profissional esgotado e desiludido com a vida. Já  disse antes, sou um apaixonado pela ESCOLA, não quero demoli-la e não sou um niilista. Acredito que isso tudo precisa ser dito e divulgado. “ A Sabedoria grita nas ruas, faz ouvir a sua voz, nas elevações, ao longo do caminho, nas encruzilhadas das estradas, junto às portas das estradas e nos portões de saída se dirigindo aos que querem ouvi-la” (Livro dos Provérbios).

               Voltando à Freinet: “nosso trabalho nos unirá”. Segundo ele: Os EDUCADORES têm a vantagem insigne de poderem dedicar-se a uma tarefa que a técnica humana ainda não despojou dos seus atributos naturais. A torrente, está lá, diante deles, ribombando e se agitando. E é por lhe opormos diques cedo demais que se imobiliza na planície. Depende apenas de nós vê-la novamente descer os declives e descer com ela, marretando obstáculos a serem derrubados, agarrando-nos por vezes às raízes da escarpa a fim de moderarmos impetuosidades, habituando-nos ao ribombar e ao ritmo das águas que correm, invencíveis, para a fertilidade e a vida.

              As crianças e os adolescentes, de qualquer época, sempre darão trabalho. Eles não têm obrigação de saber nada, quem tem obrigação de ensiná-las é a geração adulta. Isso já dizia Durkheim. Nós somos VELHOS, eles NOVOS. Para nós, é o mesmo... visto e revisto... que novidade tem? Para eles, não. É sempre uma novidade. A cada ano que se inicia mais uma leva de NOVOS se nos apresenta pela frente. De novo? Mas, eu já não falei isso? Sim, você já falou isso, não para esses NOVOS. Para você que é VELHO, está cansado, desanimado, triste.  É deja-vú. Para eles não. Para os NOVOS, tudo é novo para os VELHOS, que somos nós, vem o perigo do imobilismo e do cansaço.

             Um parceirão meu, Roberto Carlos Ramos, Contador de Histórias, que já foi menino de rua, comeu “o pão que o diabo amassou” apresenta uma Pedagogia diferente: a Pedagogia do Amor, para ele um bom professor precisa ter qualidades definidas por três “f” (Força, fôlego e flexibilidade) para poder conduzir uma educação de qualidade. O contraste é o educador que também tem três “f”(fraqueza, fadiga e ferrugem), o eterno pessimista e desiludido com a profissão.

                O educador precisa se renovar constantemente estando aberto às novidades, precisa reinventar-se cotidianamente e não pode abrir mão de algumas coisas importantes. Como o seu próprio saber-fazer. Algumas coisas se renovam, outras permanecem. O educador precisa ter bom senso para saber o momento de conservar e o momento de ousar.

               A Instituição ESCOLA, não muda com a rapidez que a sociedade muda, seus profissionais não se formam na faculdade de licenciatura, como se poderia supor. Eles se formam nos primeiros anos do ensino fundamental, suas práticas como professores são as práticas daqueles professores que lhe marcaram positivamente no seu percurso escolar e com os quais aprenderam alguma coisa. Isso leva um tempo de doze anos. Cada professor ou professora tem o tempo de agora para marcar definitivamente a vida de seu aluno e marcará de uma forma ou de outra, positiva ou negativamente. É RESPONSÁVEL! Ou seja, responderá por isso na eternidade, não dá para se eximir disso.

               O que querem os alunos? Querem um professor que saiba bem o conteúdo que ensina, equilibrado emocionalmente, que não seja tão distante, que  sorria demonstrando carinho e afeto, que os atenda em suas necessidades. Não querem um professor que não se importe com eles, querem um que saiba ouvi-los, não querem um professor que “deixe a banda correr solta”, o professor precisa demonstrar que tem o controle da situação, que puna, mas que puna justamente. Eles querem limites! Autoridade, não autoritarismo. Há um limite tênue entre esses dois conceitos. Querem fazer atividades que façam sentido, que despertem o interesse, que chame a atenção e querem ser valorizados por isso.
 Já ouvi no meu trabalho pelas escolas nas quais passei grupos de alunos dizerem assim “se o professor tal colaborar conosco, nós colaboraremos com ele também”.
 Quando jovem na profissão, eu passei alguns apertos para manter a disciplina em sala de aula. Um dia, um desses alunos me respondeu o que calou fundo no meu íntimo: “O Breno por moral”. É isso, “As ovelhas ouvem a voz do pastor”.

               Para Madre Tereza de Calcutá os melhores professores são as crianças, elas sabem das coisas...
Concluindo, é dentro da própria ESCOLA BRASILEIRA que está a chave de sua transformação.


Texto apresentado num seminário do dia 16 de julho de 2011, do grupo  “Corpo Cidadão.
(Aadaptado em 26/11/2012.)
BRENO JOSÉ DE ARAÚJO
ORIENTADOR EDUCACIONAL
IBIRITÉ, SEXTA-FEIRA, 26 DE NOVEMBRO DE 2012.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

DISCUSSÕES DE FINAL DE ANO: APROVAR OU REPROVAR?


Claudio de Moura Castro

Aprovar quem

não aprendeu?

"O medo da repetência leva o aluno de classe média a estudar, para evitar os castigos. Nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem"
Para chamar atenção sobre pesquisas irrelevantes, um bando de gaiatos de Harvard criou o prêmio Ignobel (um brasileiro já foi agraciado, por estudar o impacto dos tatus na arqueologia). De fato, esse é um problema clássico da academia. Como às vezes aparecem descobertas de valor na enxurrada de idéias que parecem bobas, todos se acham no direito de defender as suas. Diante disso, é reconfortante encontrar pesquisas colimando assuntos palpitantes e com resultados precisos e definitivos. Esse é o caso da tese de Luciana Luz, orientada pelo professor Rios Neto (UFMG), que examinou um problema fundamental: no fim do ano, o que fazer com um aluno que não aprendeu o suficiente? Dar bomba, para que repita o ano? Ou deixá-lo passar? O uso de dados longitudinais permitiu grande precisão na análise. A autora tratou os números com cuidado e sofisticação estatística. O cuidado aumenta a confiança nos resultados. Mas a sofisticação impossibilita que se faça aqui uma explicação acessível da análise estatística.
Contudo, a interpretação das conclusões é clara. A tese permite comparar um aluno que repetiu o ano por não saber a matéria com outro que foi aprovado em condições similares. Os números mostram com meridiana precisão: um ano depois, os repetentes aprenderam menos do que alunos aprovados sem saber o bastante. Tudo o que se diga sobre o assunto não pode ignorar o significado desses dados, que, aliás, corroboram o que foi encontrado pelo professor Naércio Menezes e por pesquisadores de outros países.
Ao que parece, para os repetentes, é a mesma chatice do ano anterior, somada à frustração e à auto-estima chamuscada. Andemos mais além da tese. Não reprovando, a nação economiza recursos, pois, com a repetência, o estado paga a conta duas vezes. E, como sabemos por meio de muitos estudos, os repetentes correm muito mais risco de uma evasão futura. Logo, ganha-se de três lados. Como a "pedagogia da reprovação" não funciona, a "promoção automática" é um mal menor.
Ilustração Atômica Studio

A história não acaba aqui. A angústia de decidir se devemos aprovar quem não sabe torna-se assunto secundário, diante da constatação de que o aluno não aprendeu. Esse é o drama mais brutal do ensino brasileiro. Por isso, a discussão está fora de foco. Precisamos fazer com que os alunos aprendam. De resto, não faltam idéias nos países onde a educação dá certo. Por exemplo, na Finlândia – e mesmo no Uruguai – há professores cuja tarefa é dar uma atenção especial aos mais fracos. Por que se digladiam todos contra a "promoção automática", quando a verdadeira chaga é o fraco aprendizado? De fato, há uma razão. Grosso modo, três quartos da população brasileira é definida como de "classe baixa". Dada essa enorme participação, o que é verdade para seus membros é verdade para o Brasil como um todo. Mas há os 20% de classe média e alta. Para esses pimpolhos, a situação é diferente. Famílias de classe baixa são fatalistas, assistem passivamente à reprovação dos seus filhos. Se não aprenderam a lição, é porque "sua cabeça não dá". Já na classe média a regra é outra. Levou bomba? Antes zunia a vara de marmelo, depois veio o confisco da bola, da bicicleta ou do iPhone. Santo remédio!
Reina a "pedagogia do medo da repetência". Essa é a arma dos pais para que o filho se mantenha por longo tempo colado à cadeira e com os olhos no livro. Cá entre nós, eu estudava por medo da bomba. É também a ameaça da bomba que permite aos professores forçar os alunos a estudar. Sem ela, sentem-se impotentes. Portanto, estamos diante de um dilema. O medo da repetência leva a minoria de classe média a estudar, para evitar os castigos. Pode não ser a pedagogia ideal, mas ruim não é. Já nas famílias mais modestas não há medo nem pressão para que os filhos estudem. O que há são as bombas caindo do céu e criando repetência abundante e disfuncional. Pouquíssimos países no mundo têm níveis tão altos de repetência como o nosso. Ao contrário de outros dilemas, esse tem solução clara, ainda que difícil. Basta melhorar a qualidade da educação para todos.  
Claudio de Moura Castro é economista
claudio&moura&castro@cmcastro.com.br